Antonio era o típico boa praça,
brincava com todos e não perdia a oportunidade de contar uma boa piada. Antonio
se formou em medicina na área de epidemiologia e logo conseguiu emprego em sua
cidade natal, lá no interior do Rio de Janeiro. Assim que abriu seu consultório
Antonio passou a aumentar o nada pequeno numero de amizades que ele possuía.
Desde sua infância Antonio conservava
alguns amigos mais próximos, daqueles que a distancia e o tempo não consegue
separar. Pode-se citar dois deles, o Ernesto e o Marcão. Ernesto era o certinho
da turma, estava sempre ouvindo os problemas e conseguindo as soluções. Já o
Marcão era o típico machão, brigava com todos, resolvia tudo no braço, não
havia ninguém que ousasse desafia-lo ou simplesmente zomba-lo, só aceitava as
piadas e brincadeiras de Antonio.
Um dia Ernesto estava saindo de seu
emprego de meio turno na padaria, lá por volta do meio dia, e ao passar pelo
barzinho de seu Manoel enxerga Antonio beliscando um copo de cerveja com o
olhar perdido e melancólico. Ernesto resolve então se aproximar para ver se o
amigo está precisando de algo, talvez desabafar.
- O que passa Antonio? – diz Ernesto
adentrando o bar com os braços abertos e um sorriso bem largo no rosto.
- Só estou bebendo. – Diz sem olhar e
nem mudar a expressão.
Nesse momento Ernesto nota que o outro
lado da face de Antonio estava marcada com o olho roxo como uma beterraba.
- Você brigou? É por isso que está
chateado? – Pergunta Ernesto na esperança de descobrir o que estava incomodando
o amigo.
- Sim. Mas não é por isso que estou
chateado. Na verdade estou sob efeito de um choque que sofri a pouco. – Diz
Antonio finalizando com um suspiro.
- Então me diga o que aconteceu homi.
De repente eu posso ajudá-lo. – Fala afobado Ernesto.
- Vou lhe contar. Mas apenas para-lhe
mostrar como a vida é irônica. – Antonio dá uma beliscada no copo de cerveja. –
Essa manhã eu o Marcão brigamos...
- Não? Você e o Marcão? Mas são tão
amigos. – Surpreendesse Ernesto.
- Mas desta vez ele não aceitou uma
brincadeira minha. – Volta a beliscar o copo de cerveja. – Ele me procurou por
causa do andaço dessa gripe nova que tem por ai. A consulta correu direitinho
dentro de minha rotina, e ao final eu receitei-lhe umas vitaminas e mandei que
ele abotoasse a camisa, eu havia pedido que ele a desabotoasse para poder fazer
um exame com o estetoscópio. Então lhe entreguei lhe a conta, nesse momento ele
deu um salto da cadeira e reclamou do valor dizendo: “Vai cobrar de seu amigo
setenta reais só pra me mandar comprar vitamina?” e eu com meu humor típico
respondi: “Só porque você tem esse braço grande eu faço por sessenta.”
- Aposto que ele deve ter feito
pirraça. Marcão sempre gostou de barganhar. – Comentou Ernesto.
- Exatamente! – Disse Antonio
continuando. – Ele não ficou satisfeito com meu pequeno desconto e insistiu,
falando: “Cara isso só vale quarenta, e olhe lá!”. Eu nada disposto a abaixar
tanto o preço disse brincando: “Desculpa cara mas um sujeito do seu tamanho da
trabalho examinar, faço por cinqüenta e não por menos”. E ele insistiu de novo:
“Há vamos lá, deve haver uma forma de você abaixar esse preço.”. Assim que ele
disse isso eu me fiz de afeminado e sabendo de sua fama de machão resolvi
brincar passando de leve a minha mão sobre seu peito, mordi o lábio inferior e
disse como se eu fosse gay: “Sabe você é um jovem saudável e bonito...”.
- Nossa ele deve ter pirado. – Falo
Ernesto arriscando prever o final da historia.
- Mais ou menos. – Disse Antonio sem
saber como dizer o resto. – A começou depois que ele me respondeu. Com sua
posse de machão ele falou de forma áspera: “Qual é ta me estranhando? Ta
pensando que eu sou quem?” – Eu já ia esclarecer com um sorriso no rosto que
era uma brincadeira quando ele completou: “Tranca a porta primeiro”.
(Elias Souza Ribeiro, 17 de maio de 2006)
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