Predadores não escolhem suas
presas por gênero. E sim! Eu sou um homem, já fui vítima de uma relação abusiva
e este é um relato real. Relato que ponderei muito antes de escrever e até
mesmo tornar público, não só pelos envolvidos, mas também por mostrar um ponto
fraco... uma fragilidade pessoal.
Cheguei à conclusão que não poderia
ficar quieto depois de ser procurado eletronicamente por um grupo considerável
de pessoas, predominantemente mulheres, que me relataram todo tipo de abuso,
começando pelo emocional, físico e também sexual. O que todos tinham em comum? Esses
abusos foram praticados por seus parceiros, ou parceiras.
Porque falar?
Eu não poderia ficar quieto... me
calar faria com que outras pessoas se tornem vítimas, talvez até da mesma
pessoa, e isso me torna tão culpado quanto. Ficar calado me faria ser coautor
dos palavrões, tapas e até estupros que todas as mulheres e homens sofrem em
silencio de seus predadores todos dias. E por isso hoje me exponho.
A maioria das pessoas me procuram
por conta da minha formação em psicologia, embora não possa realizar nenhum
tipo de intervenção eletronicamente, entendo o sofrimento e as deixo desabafar,
colocando todos os seus demônios para fora, e no momento apropriado, além de
conforto, as sugiro a busca por uma escuta profissional, podendo indicar o psicólogo
se assim desejar.
Ser formado em psicologia, e de
fato sou TAMBÉM um psicólogo, não me imunizou se ser vitimado justamente pelo
emocional. Aliais, é um erro presumir que um psicólogo é um Wolverine da mente,
capaz de suportar e cicatrizar todo tipo de agressão emocional em questão de
minutos. O que nos diferencia de qualquer outro profissional é a escuta, mas
por detrás do divã somos apenas um humano qualquer.
O início.
Não nego que a amei, e talvez no
começo o sentimento talvez fosse recíproco até que essa suposta reciprocidade
se tornou uma vantagem para ela e uma prisão para mim. Prisão, que demorei a
perceber que estava confinado, sendo sugado, definhando, me isolando...
A princípio tudo era perfeito. A
história tinha traços de contos de fadas, com um amor da adolescência aparecendo
em sua vida mais de uma década depois. Os olhos se encontram, sorrisos são
dados e em poucos dias estamos entregues a uma paixão devastadora.
Escutei muitos “somos almas gêmeas”,
outros “fomos feitos um para o outro” e até alguns “pedi você em minhas orações”.
Mas, os sinais dificilmente são percebidos em um primeiro encontro.
Demonstrações exageradas de afeto – Primeiro sintoma.
Lembra quando eu disse que ser um
psicólogo não me imunizava das armadilhas emocionais? Uma característica comum
dos predadores, é que eles demonstram por vezes o seu suposto sentimento de
forma exagerada e publica, mas este sentimento nunca é de verdade para você. Eu
sabia disso e ainda assim ignorei o alerta.
Em teoria, as demonstrações eram
para mim, mas na prática o objetivo era mostrar para outras pessoas. Era gerar
posts com fotos bonitas e muitos likes. Era mostrar para minha família (a qual
ela via como uma rival) que ela estava me “roubando”.
Essas demonstrações não
aconteciam na nossa intimidade. Elas não eram para mim. Elas eram apenas uma afirmação
de posse. Na nossa vida privada a coisa mudava de figura, eu precisava aceitar
os “agrados” (alguns pagos com meu cartão), sorrir de determinado jeito, eu era
OBRIGADO a parecer feliz... e isso teria que ser público.
A bolha social – Quando você não pode ter mais ninguém no mundo.
Sintoma clássico de dominação,
mas quando se está apaixonado é confundido com atenção. Eram muitas ligações,
SMSs e “zap zaps”, com menos de um mês de relacionamento. Falando assim parece
fofo, mas na prática não era atenção que eu recebia, pelo contrário, eu estava
sendo vigiado.
Ela começou a se fazer presente
24 horas por dia, ao ponto que eu mal podia falar com meus amigos. Sair? Nem
pensar. Ela já tinha feito a programação por mim. Qualquer coisa fora disso se
convertia em um inferno astral, mesmo que seja um compromisso familiar, ou um
amigo realmente precisando de ajuda.
Eu estava ficando ocupado demais com
ela para viver e correr atrás dos meus sonhos...
Acelerando tudo – pulando todas as etapas. O bote do predador.
Até agora todos os sintomas foram
“leves” e podem ser facilmente confundidos com sinais de afetos, mas todo
predador percebe que um dia pode perder seu controle....
Com pouco mais de um mês eu
comecei a ser cobrado para assumir um compromisso maior que um namoro. Me via
sendo pressionado a morar junto de formas nada sutis, que variavam de
humilhação, questionando minha masculinidade por não tomar uma decisão por ímpeto,
sendo acusado de não querer me mudar por ser um “filhinho da mamãe”. Até com
jogos sexuais eu sofri.
Quando viu que seria difícil, de
repente ela não poderia utilizar métodos anticoncepcionais, por questões de saúde.
Pode até ser verdade, mas após ver todo o cenário se tornou difícil de
acreditar. Perdi a conta de quantas suspeitas de gravidez houveram naquela época.
A raiva inexplicável.
Depois de um tempo, nada mais
poderia sair de seu controle. Suas explosões de humor se tornaram comuns. Se eu
não poderia fazer algo para ajudá-la (e eu ajudava bastante, inclusive
financeiramente), objetos eram quebrados e eu escutava todo tipo de atrocidade,
algumas que realmente machucavam, pois eram coisas intimas que ela sabia que me
afetariam.
Houveram inclusive ameaças de que
ela seria capaz de inventar algo para a polícia com o intuito de me prejudicar,
com a certeza de que eu seria punido por ser homem. Outra vez, ela disse seria
capaz de alienar um hipotético filho nosso, apenas para que a criança não tenha
contato com a minha família.
A certeza de controle dela era
tão grande, que ela esfregava isso na minha cara. Até hoje me pergunto porque
eu não terminei tudo antes.
O terrorismo emocional.
Depois de ser conquistado e
ficado mal-acostumado com um carinho que nunca mais iria receber, vieram as
chantagens emocionais. Não havia uma virgula que eu colocasse diferente dela
que não viesse acompanhada de uma ameaça de rompimento da relação.
A relação em si virou arma de
controle. Se quisesse ter o suposto amor dela, tudo teria que ser feito da sua
forma. Dialogo não existia, mesmo quando eu insistia para sentarmos e
resolvermos os problemas de forma racional. Era de seu jeito, mesmo quando era
evidente que iria dar errado, ou tudo estava acabado.
Eu era refém, apenas por querer
estar na relação.
A culpa nunca é dela.
Algo bem evidente em
relacionamentos abusivos é que os predadores sempre têm uma série de problemas,
mas a culpa nunca é deles. É sempre dos exs, dos familiares e de outros
desafetos, e talvez sua.
Ela me envolveu em uma espécie de
bolha social, de um jeito que todo mundo fora parecia errado, mas ela a certa,
mesmo eu vendo que ela era irresponsável financeiramente, emocionalmente,
inconsequente e explosiva.
Neste ponto minhas oportunidades
profissionais se esgotaram e eu me compliquei com o cartão de crédito, perdi títulos
financeiros que tinham no banco e esgotei minhas economias, por tentar ajudar a
“vitima”. Sim, é comum que predadores contam muitas histórias tristes, para
obterem ajuda de muitas pessoas. Note que você se torna descartável depois
disso.
Esse sacrifício foi reconhecido e
valeu a pena? Não. Ela rompia a relação com frequência, e voltava para sugar
mais. E sim, não percebi o papel de idiota que estava fazendo.
Intimidação, bullying, ameaças...
Não dá para falar sobre tudo que
ela me fez, o inconsciente bloqueia, pois só recentemente aceito a estupidez da
minha cegueira na época. Quantas vezes a peguei gritando comigo, com algum
objeto ameaçador na mão...
Quantas vezes fui xingado,
chamado de burro...? Quantas vezes fui desmerecido até fisicamente, para
parecer que estava com sorte de estar com ela? Quantas noites fui dormir
engolindo choro por me sentir fracassado?
Eu era, e sou, respeitado em
todos os meios que me envolvo, mas ainda assim eu era desmerecido, isolado e
humilhado como se não fosse bom o suficiente. Muito do que passei naquela época
me envergonha até hoje, e demorará para falar tudo. Por ser homem? Sim. Porque
homem não chora? Homem chora, mas fazemos isso escondidos, e como já engoli
essa vontade de gritar e chorar.
Perseguição! Sendo “Stalkeado” até hoje.
Ela provavelmente está lendo este
artigo, é uma certeza na verdade, a mesma certeza que vai fazer ela me ligar ou
mandar alguma mensagem mal-educada. Até hoje ela ainda tenta se fazer presente
na minha vida, seja espionando minhas redes sociais, trocando o número do
telefone para que meu identificador não a acuse, até “aparecendo” para amigos
meus.
Mas, aprendi a lição, não abro
sequer uma fresta para ela.
Hoje tenho autoestima, sei que
sou bonito, inteligente e uma boa companhia, não preciso sofrer por ninguém
para ter alguém. Ser romântico é qualidade minha, se aproveitar disso é defeito
dela.
Eu sei que tem alguém em algum
lugar aí que merece meu amor e eu farei por merecer o seu.
Cara, você viveu a minha vida, irmão! Mas hoje, consegui encontrar alguém que me dá tudo o que eu quero e preciso, e sei que você também vai conseguir!
ResponderExcluirObrigado pelas palavras Renato!
ExcluirHoje eu sei que tem gente que merece mais o que eu tenho a oferecer, mas naquela época realmente fiquei cego. Demorei para perceber.
Fico feliz em saber que sua história terminou bem, isso realmente me motiva.
Grande abraço!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirParece novela mexicana mas é a realidade ne..Perfeito! Só uma pessoa muito equilibrada e confiante poderia escrever esse artigo. Parabéns e obrigada por compartilhar seu passado e espero estar no seu futuro!
ResponderExcluirRs :)