Tão longe, tão perto.

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O Texto abaixo é minha participação na antologia "Quarentena - Memórias de um país confinado" (a ser anunciada o lançamento).

Eu olho pela janela e vejo o tal do sol nascendo quadrado. Dizem que os primeiros dias são os mais difíceis... Não sei. Passaram-se quantos dias? Semanas? Meses? O tempo é outro direito que me foi privado. É difícil contar os dias quando uma segunda-feira não se difere de um domingo.

Confesso que as vezes sinto falta de ir para o trabalho, lamentando não ter mais tempo. Hoje lamento por ter tempo, mas não poder trabalhar... É uma prisão! Mas, não há crime... Nosso único pecado é querer continuar a existir e garantir a existência de outros.

Mas nem tudo são dias sombrios, pelo contrário, há uma faceta que poucos enxergam. A prisão me trouxe outro tipo de liberdade. Eu pude falar com você de assuntos frívolos que antes não teríamos tempo... Rimos, fizemos planos, assistimos séries, nos aproximamos mais... Sim! Estamos mais próximos, mesmo que distantes. Se antes tínhamos que contar os dias para nos amarmos, seja por eu ter compromissos, ou você estar presa em seu laboratório, hoje estamos à distância de uma vídeo chamada e podemos nos ver sem pressa...

Claro que quero tocar-te. Desejo tocar-te! Não porque estamos apenas enamorados, mas porque tudo isso nos fez enxergar um ao outro, com uma intimidade maior que a nudez...

Quando esta prisão acabar, não quero apenas te amar... Quero te viver!