Não permita que nossos meninos
cresçam achando que ser um cafajeste é normal.
Pensei bastante antes de escrever
este texto, até porque é um tema que mexe com as emoções, e com uma certa razão.
Também, cogitei encher estas linhas com várias referencias psicológicas e
filosóficas, mas isto iria deixar a mensagem muito impessoal e, por fim, eu
iria me distanciar de você leitora(o). Então, irei usar o coração, sem renunciar
à minha formação em psicologia.
Quantas vezes você não escutou,
ou até mesmo falou, que ‘nenhum homem presta’, ou qualquer variação, geralmente
carregada de mágoas nesta frase? Apesar de entender que muitas vezes o contexto
permita esta afirmação (sim, reconheço que existe uma cultura machista tóxica
em nossa sociedade), ela carrega um perigo silencioso. Esta afirmação é tão
perigosa quando dizer que todo baiano é preguiçoso, ou todo policial é
corrupto, ou que toda mulher é interesseira (esta lista poderia seguir
infinitamente). Você pode estar naturalizando um comportamento que não é inato
no ser humano, muito menos no homem.
A ‘naturalização’, de uma forma
simples, é quando pegamos um conjunto de ideias e conceitos e as aceitamos como
algo normal. Na verdade, essa ‘ideologia’ fica oculta, pois passamos a tratar
como algo inato no indivíduo. Normalmente esta palavra é utilizada quando
falamos de um estrangeiro que passa a morar em um país, que não a sua pátria original,
neste caso, o imigrante adota o idioma, os hábitos, a comida local e tudo que
faz parte da cultura da região. Mas, a palavra é aplicada a tudo que promova
uma mudança cultural, longe do natural.
Portanto, é perigoso,
principalmente para nossos meninos, que certos comportamentos sejam classificamos
como de determinado gênero. Nenhuma criança nasce cafajeste, malandra,
mentirosa, ou qualquer adjetivo que queria atribuir ao homem, ela na verdade
aprende a ser um indivíduo com a sociedade. Tudo que ela escuta e observa será utilizada
para formar sua concepção de gênero. Se falarmos repetidamente que nenhum homem
não presta, o menino cresce acreditando que este é o único comportamento
possível, afinal, ele não presta.
Se hoje temos um excesso de ‘homens
que não prestam’, a culpa é de nós como sociedade. Não há absolutamente nada na
natureza que obrigue o homem a ser um cafajeste. Esqueça aquelas explicações
sobre a sexualidade, de que o homem precisa satisfazer certas necessidades. É possível
fazer sexo, inclusive o casual, sem ser um completo babaca. Não é difícil tratar
alguém com respeito. O homem (tal qual a mulher) é mais uma construção
cultural, que biológica. Ou você já viu um cão refletindo sobre o que é ser
macho, ou fêmea?
Não estou dizendo para
esquecermos cada cafajeste que faz da vida de uma mulher um inferno, ele deve
ser reprovado sim. O que proponho é que não tomemos como normal um homem sem caráter,
mas que reforcemos as qualidades que fazem de um homem, um homem bom. Diga que
todo homem deve tratar bem uma mulher, que não deve menosprezar e inferiorizar,
que todo homem deve tratar uma mulher como igual, que ser bom é o mínimo que se
espera de um homem...
Que naturalizemos a cultura do
homem, bom, justo e honesto. Para cada ‘homem que não presta’, vamos ensinar a
10 meninos que ele pode ser ‘um ser humano que presta’.
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